segunda-feira, 3 de setembro de 2007

" Eu Acho Que..."

Todos conhecemos aquele blá-blá-blá sobre como a sociedade de hoje vive de aparências, em todos os sentidos... Estamos habituados a dizer que, nas mais diversas relações sociais, são aceitos os que se vestem melhor, os que possuem um carro novinho ou importado, os que parecem mais seguros e competentes, os magros, os belos e os sarados.
Enfim, juízos de valores rápidos (e que, por isso, oferecem menor margem de confiabilidade) para atender às necessidades desta nossa sociedade fast food.

Natural, então, que para atender melhor a essas necessidades, tantas pessoas façam adesão irrestrita à abominável política do "achismo". Para entender o que seja, basta pensar naquela aula na Pós ou reuniões de trabalho, depois que passa a parte expositiva.
O interlocutor abre espaço para o debate e o primeiro mala que levanta a mão para falar, dispara um "acho que...", que nada tem de modéstia intelectual, mas, sim, de farsa. Ao dizer que "acha", o mala está, na verdade, afirmando que jamais se deu ao trabalho de ler a respeito do assunto (ainda que exista vasta bibliografia e pesquisa a respeito), mas, ainda assim, quer participar da discussão, para não perder a chance de parecer preparado.

Em outras situações inocentes (acontecidas com qualquer um de nós), também percebemos bem do que se trata o "achismo". Façamos uma viagem mental até a última reunião de família, em que aquela tia mega-pentelha resolve fazer uma consulta, para saber a doença do primo da vizinha ou, então, perguntar quanto tempo vai demorar o processo da melhor amiga da neta. Por amor aos laços familiares (no meu caso minha doce mãe), engole o "que saco", olha para a cara da famigerada tia e já engata um "eu acho..." (leia-se: eu até tenho conhecimento técnico que me permitiria dar uma opinião mais precisa sobre o seu "causo", mas, sinceramente, não sinto que devo alimentar a sua falta de semancol para sempre, portanto, vai essa opiniãozinha merreca).

O que todas as manifestação de "achismo" parecem ter em comum é a absoluta falta de comprometimento do indivíduo com o conhecimento em si sobre uma determinada questão. Quem "acha", infelizmente, tem opinião sobre a qual não podemos nos confiar para nada. Quem "acha" desistiu do compromisso de aprender e repassar o que sabe.
Quem "acha" prefere parecer que sabe tudo, em vez de apostar no saber um pouco.

E o que é pior? Descobrir que, às vezes, quem somente "acha" tem tão mais atenção do que mereceria, por ser apenas uma embalagem sem conteúdo...

Nota: Uma hora ou outra, todos nos vemos na condição de dizer alguma coisa com base na política do "achismo". Mas, é recomendado o uso comedido desse recurso retórico, sob pena de ficarmos com aquela imagem (nada bonita) de enrolões, ou, pior ainda, pegar o apelido de "All About Nothing".

Que todos tenham uma excelente semana...

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