quarta-feira, 30 de julho de 2008

Tenho...

Tenho medo da infelicidade branca e leve que não mostra os dentes, essa que veste o dia de um plástico transparente e lambe os nossos rostos sem que percebamos...Tenho medo da tristeza sem grito e sem desespero que nos cobre de nublado e ordinariza as cores, uma a uma, até que elas não mais se diferenciem... Tenho medo disso que invade manso e silencioso e quer estar despercebido para nos convencer que a vida é esse avesso de estar vivo, este contrário de viver, que quer ser este esgar de alívio no meio da dor inderrogável... Tenho medo de ser alfabetizada pela descrença, pelo triste, pelo esquecimento, pelo apático... Tenho medo de ficar paralízada e embrutecer calada com os olhos vazios e os braços habitados de um oco profundo, pensando que espero a absolvição do Sr. Tempo, mas um dia perceber que fui embora de mim.

Portanto...


Tenha medo...Tenha medo de que fuja de nossas mãos a delicadeza do pão, da terra, da pele e dos cabelos... Tenha medo de que deixem os nossos olhos secos do brilho do açúcar, das lágrimas, da emoção do encontro, da tristeza e da solidão...

Sim!

Tenhamos medo de que nos falte na língua o gosto de um beijo, a palavra terna, o segredo partilhado e que disso não nos reste nem a lembrança de beijos guardados... Tenhamos medo de que nos abandone do corpo o calor do abraço, a ardência do desejo, a ânsia incompleta e urgente de se entregar, de se rasgar, de se deixar invadir...

E faça deste medo um anti-escudo...Reinventemos o medo para aceitá-lo e acolhê-lo; E assim o tornemos coragem... Dispamos o medo, formidável e monstruoso, abracemos o medo; E o tenhamos somente em nós, no mais fundo de nós...Sejamos medrosos e humanos, infinitamente humanos, e nos agarremos desesperadamente à nossa humanidade cheia de dores e risos, cheia de tropeços e abismos e asas e altitudes e amplidões, cheia de vida para ser vivida do começo ao fim, de todas as formas.


Inspirado no texto "Do que você tem medo ?" da Dama de Cinzas, do Blog Confissões Ácidas

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