terça-feira, 22 de julho de 2008

São Paulo, 22 de Julho de 2008

Prezado Senhor,

Vamos falar francamente... nunca fomos muito chegados; E, que eu nunca te enxerguei nem mesmo como um senhor bonitinho que merecesse uma oração...Você e eu, Tempo, verdade seja dita, nunca nos entendemos muito bem.

Meu tempo de crescer chegou bem depois que eu já havia crescido, eu lá, cheia de corpo e hormônios no meio das meninas que já não se pareciam nada comigo; Cheia de planos e responsabilidades dentre quem disso nem queria saber...


Estava eu lá, no tempo de outro, de outras gentes, mas que viviam no seus próprios e devido tempo... Eu, na vertigem da dessincronia entre mim e ti.

Foi sempre assim, não foi, Tempo? Eu lá adiante e você aqui atrás... Eu envelhecia rápido enquanto meu corpo deveria ainda estar crescendo, adultescia mais do que os adultos ao meu redor, aprendendo os teus mais duros ensinamentos antes mesmo da vida ter me alfabetizado como deveria... Depois, mais descompasso, na tentativa de encontrar-te de volta, no elementar, no básico, você já havia me ultrapassado... Eu em busca do tempo de ser cuidada, e você muitas vezes já não me dava mais este direito. Na maioria das vezes apenas apontava de lá teu dedo implacável da auto-suficiência, enquanto eu menina que não sabia o que fazer de mim...

Nunca entendi tuas certezas, Tempo, nem o tempo das certezas dos outros... Sempre estive meio longe - ou na instantaneidade do óbvio, ou na intransponibilidade da ausência...Sempre eu, na inadequação cronológica... Sempre eu, muito cedo ou muito tarde... Sempre eu, intempestiva.

Por isso venho a você, Tempo, cansada de te perseguir... Peço que me ensine seu trabalho, este em que as horas não dóem, em que os instantes vivem e florescem sem peso ou bruma, em que os momentos às vezes sobrepõem os anos, mas em que os anos passam nos fortalecendo o caminhar...

Pega-me no colo, Tempo, me mostra teu rosto, me faz entender que você não quer fugir e que eu não posso te prender...


Me dá sua mão, Tempo, leva-me do teu lado...

Mostra-me de novo e de novo e de novo que não há para onde ir, a não ser estar aqui e agora, com você.

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